Na Quadrada das Águas Perdidas
Na Quadrada das Águas Perdidas nadou contra as correntezas do rio São Francisco e do mercado cinematográfico brasileiro. Desde sua concepção até seu reconhecimento, concretizado nos prêmios e nas participações em festivais de cinema, nosso filme trouxe a marca da determinação de realizar o primeiro filme dos Sertões finalizado em 35mm, rodado e distribuído nacionalmente com lançamentos simultâneos nos cinemas das cidades de Petrolina, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Porto Alegre. Nosso primeiro longa-metragem é uma conjugação de vontades que nos trouxe ensinamentos, desafios, prazeres e felicidade: desafio de injetar dinamismo na trajetória de seu único personagem; aprender a trabalhar com animais ariscos e nem sempre muito amigáveis; o prazer de dirigir um dos maiores atores do Brasil, o parceiro, cúmplice e amigo Matheus Nachtergale; a felicidade de contar com a parceria talentosa de Elomar e de Geraldo Azevedo entre tantos outros.
Tudo isso traz a certeza de que valeu a pena ousar. Claro que sem o incentivo financeiro do Governo do Estado de Pernambuco através dos editais do FUNCULTURA nas etapas de finalização e distribuição e do apoio de uma equipe engajada no projeto, nada teria sido realizado; O brilho não seria o mesmo e não seriam tão doces os frutos do trabalho de todos. Mergulhar e espalhar esse universo catingueiro no Brasil e exterior, onde o filme foi e continua a ser exibido – é um marco, já que até então não havia um documento audiovisual que retratasse o modus vivendi do homem da caatinga, suas crenças, valores e costumes. A fauna e flora transcenderam os moldes do documentário numa ficção rica de realidade e sobretudo despida dos tão massificados estereótipos tanto do árido Sertão, quando do ser humano que o ocupa. Sempre foi subestimada sua beleza, suas cores e sua diversidade; sempre ficaram ocultos os métodos que os catingueiros usaram para sobreviver em uma Natureza hostil e áspera à primeira vista, mas acolhedora e suave quando se aprende a conviver com ela. Temos muito orgulho da importância deste documento para as gerações futuras.
Na Quadrada das Águas Perdidas nadou contra as correntezas porque buscou a essência e a fonte dessa grande riqueza que nos acena dali, longe dos irmãos que vivem outros Brasis e daqui, tão perto e tão serena por traz das fronteiras urbanas do nosso tão amado Sertão.
Wagner Miranda / Marcos Carvalho
Roteiro, produção e direção